COMO FUI PARAR NO ARMAZÉM PARAÍBA?
Depois de 3 anos no Administradores.com, trabalhando numa empresa compacta, com 13 funcionários, onde qualquer coisa era só eu esticar o braço que eu alcançava o CEO, fui parar em um dos maiores gigantes do varejo nordestino. Saí de um ambiente ágil, de equipe reduzida, e entrei em uma empresa com mais de 3000 funcionários, onde tudo era maior, mais estruturado e, claro, mais burocrático.
Meu primeiro momento foi no departamento de Relações Humanas, dentro da célula de Endomarketing. Lá, minha função era produzir conteúdos para treinamentos internos e programas para a TV Corporativa da empresa. Essa experiência reforçou ainda mais meu envolvimento com conteúdos educativos e me permitiu desenvolver um olhar específico para a comunicação interna de uma organização desse porte.
Mas eu entrei na empresa no começo de fevereiro de 2020 e a gente lembra o que aconteceu naquele ano, né? A pandemia explodiu.
Porém, surpreendentemente não fui desligado e depois de apenas dois meses de lockdown no pico da pandemia o departamento de relações humanas foi desmantelado e eu que jurava que ia ser ejetado fui remanejado pro departamento mais famoso da empresa. O Marketing.
COMO FOI MINHA EXPERIÊNCIA NO ARMAZÉM PARAÍBA
O Armazém Paraíba é um nome enraizado na cultura nordestina. Em todos os estados onde tem loja, a marca é onipresente. E o mais impressionante? Todo o marketing da empresa é concebido, desenvolvido e executado internamente. Nada de terceirizadas.
Essa autossuficiência faz as agências detestarem o Armazém e eu sempre achei isso bem engraçado. É impossível ser nordestino e não conhecer o bordão “Fiado é só no Armazém Paraíba” e as dezenas de jingles chicletes de Dia das Mães, Dia das Crianças e principalmente o de Natal.
Inclusive é por causa desse jingle que eu passei esses três anos tendo que desmentir as pessoas que Amazan não era o dono do Armazém, por mais que os nomes combinem.
Além da publicidade tradicional, a marca tem um pé fortíssimo no merchan televisivo, nas rádios e na cultura popular. Os cenários das TVs locais sempre tinham ao fundo telas que eu produzia.
Essa independência e liberdade criativa vêm da ausência de concorrentes regionais diretos – o único nome que realmente bate de frente com o Armazém é o Magazine Luiza, que, apesar de superar em todos os quesitos, não tem nada a ver com a cultura da região.
Esse contexto me ensinou, na prática, marketing de guerrilha. Se no Administradores eu produzia conteúdos elegantes e sofisticados para um público B2B, no Armazém eu fazia o oposto: filmava tudo com um celular e muitas vezes “capava” a qualidade do que produzia. Não por limitação técnica, mas porque o público da empresa se identifica mais com um formato popular, acessível, sem a polidez do audiovisual tradicional. Aprendi que “bem produzido” nem sempre significa “efetivo” – e essa foi uma das lições mais valiosas que levei dessa experiência.
Uma parte infinitesimal (em épocas de pico eram 10 vídeos filmados e editados POR DIA) do que produzi no Armazém ficou arquivado no Instagram @laureano.mkp, onde documentei um pouco do dia a dia das produções internas e campanhas da empresa. Perdi o acesso a essa conta por causa do Zuck, mas ainda serve ao propósito.
POR QUE SAÍ DO ARMAZÉM PARAÍBA?
O Armazém Paraíba está chegando aos 70 anos com corpinho de 90 e mentalidade de 621. Alguns dos meus valores inegociáveis são diversidade e inovação, enquanto os valores do Armazém são tradição e FÉ EM DEUS.
Sim, isso é literalmente um dos valores da empresa. Em 2025.
O Armazém sempre teve essa identidade familiar e cristã, o que por si só não é um problema. Mas, com o tempo, percebi que, como acontece em muitas empresas que se apoiam fortemente em valores morais, nem sempre o discurso se alinha à prática. Além disso, apesar de ter aprendido na prática técnicas avançadíssimas de marketing de guerrilha e produção de alto impacto com o mínimo de recursos, no que era a minha especialidade – o audiovisual – comecei a sentir que estava estagnando. Ou pior: regredindo.
O que ficou claro pra mim foi que, com o tempo, a pressão para assumir cada vez mais responsabilidades além da minha função começou a pesar. Mas no fim, saí com muito aprendizado na bagagem. Tive contato com um universo completamente diferente do que estava acostumado e aprendi a me adaptar a um outro tipo de narrativa audiovisual. Mas era hora de buscar novas experiências e voltar a explorar todo o potencial que sei que tenho. Eu nem imaginava que meu próximo trampo seria tão certeiro nessa minha necessidade.
Apesar dos apesares, tenho muito carinho por essa etapa da minha carreira e muito do que eu aprendi lá tô aplicando até hoje nos meus próprios produtos criativos.